quarta-feira, 23 de março de 2011

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos seus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que não te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora


Vinicius de Moraes

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