terça-feira, 29 de março de 2011

Feliz por nada


Geralmente, quando uma pessoa exclama Estou tão feliz!, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.

Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.

Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.

Feliz por nada, nada mesmo?

Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. “Faça isso, faça aquilo”. A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?

Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo?

Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.

Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.

Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?

A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.

Ser feliz por nada talvez seja isso.


Martha Medeiros

Soneto do maior amor











Maior amor nem mais estranho existe






Que o meu, que não sossega a coisa amada






E quando a sente alegre, fica triste






E se a vê descontente, dá risada.






E que só fica em paz se lhe resiste






O amado coração, e que se agrada






Mais a eterna aventura em que persiste






Que de uma vida mal-aventurada






Louco amor meu, que quando toca, fere






E quando fere vibra, mas prefere






Ferir a fenecer - e vive a esmo






Fiel à sua lei de cada instante






Desassombrado, doido, delirante






Numa paixão de tudo e de si mesmo.











Vinícius de Moraes

Olhos nos olhos


Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
´Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Ohos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz


Chico Buarque

domingo, 27 de março de 2011

A tristeza permitida



Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.


Martha Medeiros

sábado, 26 de março de 2011

O futuro da humanidade - Augusto Cury

" Mais sábios que os homens são os pássaros. Enfrentam as tempestades noturnas, tombam de seus ninhos, sofrem perdas, dilaceram suas histórias. Pela manhã, tem todos os motivos para entristecer e reclamar, mas preferem cantar agradecendo a Deus por mais um dia"

Quase sem querer

por Maria Gadú

Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso.

Só que agora é diferente:
To tão tranquilo
E tão contente.

Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém.

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.

Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira.

Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.
Já não me preocupo
Se eu não sei porquê

Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.

Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos.

Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você
estava chorando
E foi então que percebi
Como lhe quero tanto.

Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo

Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você



http://www.youtube.com/watch?v=J_XUaH0Tmck


Você pode ir embora e nunca mais ser a mesma.
Você pode voltar e nada ser como antes.
Você pode até ficar, pra que nada mude, mas aí é você que não vai se conformar com isso.
Você pode sofrer por perder alguém.
Você pode até lembrar com carinho ou orgulho de algum momento importante na sua vida: formatura, casamento, aprovação no vestibular ou a festa mais linda que já tenha ido, mas o que vai te fazer falta mesmo, o que vai doer bem fundo, é a saudade dos momentos simples:
Da sua mãe te chamando pra acordar,
Do seu pai te levando pela mão,
Dos desenhos animados com seu irmão,
Do caminho pra casa com os amigos e a diversão natural
Do cheiro que você sentia naquele abraço,
Da hora certinha em que ele sempre aparecia pra te ver,
E como ele te olhava com aquela cara de coitado pra te derreter.
De qualquer forma, não esqueça das seguintes verdades:
Não faça nada que não te deixe em paz consigo mesma;
Cuidado com o que anda desabafando;
Conte até três (tá certo, se precisar, conte mais);
Antes só do que muito acompanhado;
Esperar não significa inércia, muito menos desinteresse;
Renunciar não quer dizer que não ame;
Abrir mão não quer dizer que não queira;
O tempo ensina, mas não cura...

Martha Medeiros

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos seus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que não te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora


Vinicius de Moraes

Sempre ela!

É claro que a primeira postagem tinha que ser dela, a melhor, a diva, a graciosa, a deusa Martha Medeiros!!!

A Voz Do Silêncio

Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.
Simples, rápido! E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.
Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.
Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"
É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.
Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.
E fala alto.
É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem

Mania minha.

Todo mundo tem uma mania.
A minha tem sido procurar citações, letras de músicas, crônicas e afins. Passo horas procurando uma frase para colocar na legenda de uma foto com os amigos do último evento, uma crônica pra enviar pra uma amiga que acaba de ter o coração partido, ou uma letra de música para postar no face e tentar enganar a todos sobre o meu estado emocional. Pode parecer normal, todo mundo faz isso. É praxe colocar uma frase bem clichê do tipo "meu melhor amigo é o meu amor" na legenda da foto que você está ao lado do seu suposto amor eterno. O que não deixa de ser mentira. Dúvido que você vá contar ao seu namorado que sonhou com o ex, ou que você vai falar que viu um gato passando na rua, ou que deseja beijar aquele amigo dele que é um espetáculo. Para o melhor amigo você contaria. Mas isso não vem ao caso. O caso é que passo horas lendo coisas na internet ou em livros e relaciono com a vida das pessoas ou com a minha mesmo. Tipo "amiga ouvi uma música que é a sua cara!", "A não fica triste fulana. Tem uma crônica da Martha Medeiros que fala sobre isso. Vou te mandar", "Ele te traiu? Que canalha! Tem uma frase de uma música que fala assim...". Pois é, virou quase uma doença ficar fazendo isso.

Então, depois de reunir váárias misturebas sobre amor, amizade, namoro, felicidade, tristeza, e por ai vai, resolvi fazer esse blog para organizar todo esse conteúdo super "útil" e compartilhar com as pessoas.

Obs.: Amigas, não preciso mais mandar nada por inbox ou email. Agora está tudo aqui! =D

Beijoos